Monday, August 18, 2008

Olimpismo

As declarações de alguns atletas portugueses nos Jogos Olímpicos de Pequim mostram que algo vai mal no reino da delegação olímpica nacional. O primeiro momento de estupefacção aconteceu quando o lançador de peso Marco Fortes declarou, com ar de galhofa, que não funcionava de manhã e que, ao terceiro lançamento, percebeu que devia é "estar na caminha com as pernas esticadas." Ora, o atleta sabia há muito tempo que a prova era de manhã e se estava cansado é porque não dormiu o suficiente. E se não dormiu o suficiente é porque não cumpriu a obrigação de se deitar cedo nos dias anteriores, de forma a adaptar os tempos do sono á prova que se advinhava. Uma competição olímpica não é um campo de férias. É caso para perguntar, onde estava o seu treinador?
Jacinto Paulinho resolveu não ir a Pequim na véspera da prova, alegadamente por sofrer de asma e por necessitar de um medicamento proibido pelo comité Olímpico Internacional para controlar a doença. Ora, partindo do princípio de que a asma é uma doença crónica, porque só chegou a ssa conclusão na véspera da prova?
Também Francis Obikwelu resolveu desistir da prova de 200 metros na véspera, depois de assumir que estava na melhor forma de sempre e era candidato à medalha de ouro. Ambas as atitudes foram lamentáveis e revelam um mau aconselhamento técnico e humano. Quem vai a uns Jogos Olímicos vai com a grande responsabilidade de representar o País e não pode desistir apenas porque lhe apetece. Afinal, o País pagou toda a sua preparação e ninguém obrigou o atleta a ir aos Jogos Olímpicos. Havia deveres a cumprir, que não foram cumpridos. Ainda por cima,os 200 metros era a prova onde tinha mais possibilidades de ober uma boa classificação... Por outro lado, também é lamentável que o atleta se tenha assumido como candidato à medalha de ouro quando não tinha tempos esta época sequer para se qualificar para a final. Seguramente, não houve aqui o merecido acompanhamento técnico e humano. Obikwelu é ainda um jovem e não pode ser responsabilizado por erros e omissões dos técnicos: a esses sim, porque têm uma formação universitária, exige-se-lhes maturidade, bom senso e sentido do dever. Parece-me incompreensível que a treinadora espanhola de Obikwelu se tenha recusado a ceder o atleta para participar nas estafetas dos 4x100 metros, onde Portugal poderia obter um bom resultado.
A leiriense Vânia Silva também não esteve bem ao justificar o seu mau resultado por não se adaptar a este tipo de provas, com estádios cheios. Ora, a atleta já sabia que nem quaisquer jogos olímpicos os estádios estão sempre cheios. Pergunta-se: o que foi fazer a Pequim, então?
A judoca Telma Monteiro atribuiu a sua derrota à arbitragem, o que também não abona muito do seu sentido de fair-play. Melhor seria se tivesse assumido o mérito das adversárias que a derrotaram, ao que sei, campeãs asiáticas e do mundo, respectivamente, um currículo de respeito. Aliás, foi lamentável que os atletas do judo fossem para Pequim mentalizados de que iriam ganhar medalhas. Em primeiro lugar, o imponderável é uma inevitabilidade em todas as provas e, no judo, ainda mais. O facto de alguns atletas serem campeões da Europa ou do mundo não oferece, de modo nenhum, garantia de medalhas. A competição é outra, os níveis de forma também, os feitos passados não são garantia de resultados futuros. Faltou também aqui um trabalho de preparação técnica e humana de quem os acompanha. Em alta competição, humildade é um dos requisitos para a vitória.
Postura completamente diferente tiveram Vanessa Fernandes, Naide Gomes e Nelson Évora, revelando humildade e pés bem assentes no chão. Seguramente, mérito também dos técnicos que os acompanham.
Contudo, uma equipa olímpica não pode ser uma manta de retalhos, onde ninguém se entende nem há códigos de conduta. A delaração do presidente do Comité Olímpico de Portugal de que só é responsável pela preparação física dos atletas e não pelo nível de educação dos atletas não colhe. Os técnicos têm de ser responsabilizados pela formação integral dos atletas, afinal passam muitas horas por dia com eles, se não forem eles a proporcionar formação cívica aos seus atletas, quem a proporcionará? Não basta um par de pernas musculadas e uns abdominais firmes para poder representar Portugal, há um sentido do dever que não podem deixar de se ter para o representar. Além das marcas desportivas há todo um conjunto de garantias que técnicos e atletas têm de dar para representar o País. Mudanças precisam-se e urgentemente!

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