Saturday, July 21, 2007

O cavaleiro Sócrates e o seu escudeiro Costa entre Cabeceiras de Basto e o Alandroal

António Costa venceu as eleições para a Câmara de Lisboa sem maioria absoluta, apesar de ter sido levado ao colo pela comunicação social. A SIC Notícias, canal dirigido pelo irmão, organizou um debate no último dia da campanha eleitoral só com apoiantes de Costa. Um verdadeiro comício, que não dignifica nada uma estação televisiva supostamente independente e, provavelmente, teve o efeito contrário ao pretendido. Começa a tornar-se hábito este canal apoiar candidatos, aconteceu o mesmo com Cavaco Silva. A mim nem me incomoda que o façam, desde que o assumam publicamente. Aliás, a colagem de muitos órgãos de informação e comentadores aos candidatos à partida vencedores começa a fazer escola em Portugal e não é nada saudável, para a democracia.
Apesar dos surpreendentes apoios nos média (até Marcelo Rebelo de Sousa lhe teceu rasgados elogios...), Costa revelou-se um gigante com pés de barro, com uma campanha cinzenta a que correspondeu um resultado igualmente cinzento. Sócrates gritou vitória, anunciando a derrota da oposição ao Governo. Pelos vistos, já considera um bom resultado vencer as próximas eleições legislativas com 29,5% dos votos... As excursões de idosos de Cabeceiras de Basto e do Alandroal à sede de candidatura do partido na noite eleitoral, para compensar a falta de apoiantes, foram a cereja em cima do bolo. Foi o PS de Sócrates igual a si próprio.

Thursday, July 5, 2007

A História, o mediatismo e o comércio

A eleição das 7 Maravilhas de Portugal é amanhã (07/07/07). É verdade que se trata de um concurso, mas mesmo num concurso as regras têm de ter um mínimo de racionalidade e de justiça. Com efeito, só faz sentido participar se o voto das pessoas for respeitado e a votação corresponder, de algum modo, ao sentimento dos portugueses. Contudo, não é isso que se passa. Seguramente, haverá hoje tecnologia que permita filtrar as chamadas telefónicas e validar apenas um voto por número, como é feito com o voto por e-mail. A organização não seguiu essa via. Fez mal. Predominaram os interesses comerciais, uma vez que as chamadas e SMS são de valor acrescentado, em detrimento do respeito pelos votantes. Bem pode a organização afirmar que as regras eram conhecidas desde o início, mas o facto é que a maioria das pessoas (e até dos autarcas envolvidos) não conheciam à partida essas regras em detalhe. No limite, qualquer ricaço pode contratar uma empresa para enviar um milhão de SMS, conseguindo a vitória na certa e tornando, assim, os votos dos portugueses irrelevantes. Qual o papel então dos votantes de boa-fé, que votaram pensando que o seu voto efectivamente contava ? Do meu ponto de vista, este tipo de prática leva ao completo descrédito e ridiculariza este tipo de concursos. O caso do concurso Grandes Portugueses, que elegeu Salazar como o maior português de sempre, mostrou a lógica absurda das votações em massa levadas a cabo por grupos organizados que acabou envergonhando a televisão pública. E é pena, pois estes concursos poderiam ser mobilizadores de boas causas, se respeitassem os votantes. Ora, não se pode pedir às pessoas que participem, ao mesmo tempo que se impõem regras que tornam o seu voto irrelevante.
Não é justo, nem é sério. E bem podem as organizações destes concursos alegar que há um objectivo positivo de motivar a discussão sobre a História de Portugal, que o argumento não colhe. A histeria que se gera diante da imprevisibilidade dos resultados só vulgariza e despristigia a História, as suas figuras e o seu Património. A futebolização e o aproveitamento da História para fins meramente mediáticos e comerciais é lamentável. No que me toca, já não votei nos Grandes Portugueses, por achar que não é possível hierarquizar figuras em contextos e épocas completamente distintas. Contudo, votei por e-mail nas 7 Maravilhas, atendendo que estariam em causa factores estéticos e de importância histórica que poderão ser hierarquizados, ainda que subjectivamente, e tendo em conta a hipótese de valorização turística dos monumentos em causa. Contudo, entendo que o voto dos votantes não foi respeitado e, por isso, não voltarei mais a participar num concurso destes. Por mais objectivos beneméritos que nos apregoem.