Cistermúsica obrigatório

O Cistermúsica começou no dia 20 de Maio e termina a 19 de Agosto, com uma programação original e muito didáctica, como sucede desde que Alexandre Delgado é o director artístico. Além disso, o cuidado, o carinho, a entrega e a capacidade de comunicação de Alexandre Delgado contribuem ainda mais para que o Festival de Música de Alcobaça represente uma proposta irrecusável. A não perder nos próximos fins-de-semana.

O descrédito dos neo-cons

Paul Wolfowitz, presidente do Banco Mundial , demitiu-se depois de ter aumentado ilicitamente o vencimento da sua namorada, funcionária da instituição. Tudo seria normal se este que foi um dos principais mentores da invasão do Iraque não tivesse tentado manter-se no cargo a todo o custo, com o apoio do descredibilizado presidente norte-americano George W. Bush. Qualquer outro presidente do Banco Mundial ter-se-ia demitido no minuto seguinte à denúncia pública de corrupção, só a arrogância e o cinismo dos falcões da administração Bush permitiram que Wolfowitz tentasse desafiar a decência e a moral. Uma palavra de louvor para os funcionários do Banco Mundial que se mantiveram firmes na posição de não aceitar esta patética personagem a dirigi-los.

Cavaco e os campos de papoilas

O Presidente da República congratulou-se com o envio de um novo contingente de tropas portuguesas para o afeganistão. Entre os argumentos, definiu como uma das missões o controlo do tráfego de droga. Ora, toda a gente sabe que os agricultores do Afeganistão não têm hoje alternativa ao cultivo da papoila, pelo que o país é hoje um dos maiores santuários de droga do mundo. A América de Bush e a Grã-Bretanha de Blair mostraram estar pouco interessados no bem-estar dos afegãos, ao contrário do que afirmaram quando invadiram o país para expulsar os talibãs. O investimento no País é canalizado para o esforço de guerra, não para o desenvolvimento sustentável. Por isso, o país vai continuar a ser um santuário de droga e de terroristas. Cavaco Silva fala pouco, chega a ser acabrunhante (para usar uma expressão de Jorge Sampaio) ouvi-lo falar, tal o exercício da banalidade com que nos brinda. Até Marcelo Rebelo de Sousa, um seu apoiante de primeira hora, já o fez notar. Mesmo assim, Cavaco não acerta uma.

Armazém das Artes

O Armazém das Artes, em Alcobaça, inaugurou a sua primeira exposição no dia 12 de Maio, que se prolonga até Setembro. Um belíssimo acervo de escultura contemporânea com alguns dos melhores artistas portugueses do último meio século. Uma visita obrigatória numa região onde a grande arte estava vedada à maioria das pessoas. Um espaço cultural que rivaliza com os de algumas das principais cidades do mundo. Na Armazém das Artes sentimo-nos bem, é um espaço de afectos e de generosidade, em boa hora idealizado e corporizado por José Aurélio. Quem passa por Alcobaça tem, a partir de agora, de passar também pelo Armazém das Artes.

Lisboa ganhou

O Tribunal Constitucional chumbou a marcação das eleições para a Cãmara Municipal de Lisboa a 1 de Julho. Esta marcação à pressa do acto eleitoral foi inadmissível, sabendo que iria, na prática, impedir coligações e candidaturas independentes. Não se pode excluir candidaturas usando expedientes administrativos, é um atentado às regras da democracia. E o argumento da proximidade das férias de Verão não colhe. Obviamente, seria preferivível que as eleições não se realizassem a meio ou no final de Julho, mas mais vale ter menor participação eleitoral com eleições absolutamente livres que maior participação com regras viciadas à partida.

Alberto João Jardim reforçou a sua maioria. Nenhum dirigente nacional do PS foi à Madeira explicar porque fizeram a Lei das Finanças Regionais. Numa eleição plebiscitária, o PS perdeu por falta de comparência. Jacinto Serrão ficou sozinho a pregar no deserto, sem perceber o sentimento dos madeirenses, perdeu também por culpa própria. Sócrates que se cuide: a maioria absoluta em 2009 é cada vez mais uma miragem.

A Câmara Municipal de Santarém comemorou com pompa e circunstância o 25 de Abril, apesar de terem passado 33 anos depois da Revolução dos Cravos. O Executivo social-democrata presidido pelo independente Moita Flores fez questão de distribuir cravos por toda a gente nos Paços do Concelho. E a importância que dá à data é tão grande que fez questão de criar um museu na cidade com o nome de Salgueiro Maia e de atribuir ao heróico capitão de Abril, a título póstumo, a Medalha de Ouro. Aí está uma forma exemplar de comemorar (e perceber) o Dia da Liberdade.

O Presidente da República foi ao Parlamento questionar os deputados sobre se valerá a pena manter este ritual de discursos no 25 de Abril que, alegadamente, já pouco diz aos mais jovens.

A primeira figura da Nação é convidada a discursar na Assembleia da República e, em vez de agradecer o convite, mostra desagrado por ter de discursar no 25 de Abril e faz questão de, fugindo à praxe, dispensar o cravo vermelho na lapela. Ora, é caso para perguntar: se aquilo é um ritual já sem sentido, por que aceitou Cavaco Silva convite?

Em segundo lugar, o Parlamento é a Casa da Democracia. Se não vale a pena comemorar o 25 de Abril neste lugar, onde valerá a pena?

Em terceiro lugar, não é verdade que o 25 de Abril pouco diga aos mais jovens. Ele continua a ser comemorado por todo o País - nos municípios, nas escolas, nas associações de bairro - com a presença de muitos jovens. Com tantos assessores, a Presidência da República, anda muito mal informada. É pena.

A causa da liberdade não passou de moda, nem passará nunca. Se há feriado que valha a pena ser recordado e comemorado é o Dia da Liberdade. De um Presidente da República, o que se espera é que exalte os valores da Liberdade e recorde perante os cidadãos - mais ou menos jovens- a sua importância para a dignidade humana. Ficamos à espera do discurso do Presidente da República em 2008. Se houver...

Regresso agora depois de alguns problemas com a password. Vou tentar manter a regularidade com as publicações, apesar do tempo ser sempre curto.
Obrigado.

Bem-vindos ao Blogue Tinta Fresca. Um espaço de cidadãos livres dedicado a cidadãos livres, onde o limite é a honestidade intelectual . O nome de uilizador que adoptei é, propositadamente, o ideário da Revolução Francesa que, mais de 200 anos volvidos, mantém plena actualidade. A Liberdade é uma conquista constante: se algumas delas são hoje um dado adquirido, surgem também novas ameaças todos os dias, cada vez mais sofisticadas e de ar respeitável. De tal forma, que até os inimigos da Liberdade a incorporaram no seu discurso e pretendem limitá-la em nome ... da Liberdade. A Fraternidade enfrenta o teste da Globalização, ora parece emergir na corrente colectiva, ora parece submergir nas brumas do individualismo. A Igualdade é a suprema utopia, nascemos desiguais, crescemos desiguais, num mundo desigual. E nem mesmo a igualdade de oportunidades deixa de ser uma utopia, ainda que essa circunstância não nos deva demover de a perseguir. Enfrentamos um mundo cada vez mais complexo, porventura, mais interessante, mas também com maiores riscos. A blogosfera, pela democratização da participação que representa, é um meio importante de intervenção cívica. Obviamente, não poderíamos ficar de fora.