Thursday, July 5, 2007

A História, o mediatismo e o comércio

A eleição das 7 Maravilhas de Portugal é amanhã (07/07/07). É verdade que se trata de um concurso, mas mesmo num concurso as regras têm de ter um mínimo de racionalidade e de justiça. Com efeito, só faz sentido participar se o voto das pessoas for respeitado e a votação corresponder, de algum modo, ao sentimento dos portugueses. Contudo, não é isso que se passa. Seguramente, haverá hoje tecnologia que permita filtrar as chamadas telefónicas e validar apenas um voto por número, como é feito com o voto por e-mail. A organização não seguiu essa via. Fez mal. Predominaram os interesses comerciais, uma vez que as chamadas e SMS são de valor acrescentado, em detrimento do respeito pelos votantes. Bem pode a organização afirmar que as regras eram conhecidas desde o início, mas o facto é que a maioria das pessoas (e até dos autarcas envolvidos) não conheciam à partida essas regras em detalhe. No limite, qualquer ricaço pode contratar uma empresa para enviar um milhão de SMS, conseguindo a vitória na certa e tornando, assim, os votos dos portugueses irrelevantes. Qual o papel então dos votantes de boa-fé, que votaram pensando que o seu voto efectivamente contava ? Do meu ponto de vista, este tipo de prática leva ao completo descrédito e ridiculariza este tipo de concursos. O caso do concurso Grandes Portugueses, que elegeu Salazar como o maior português de sempre, mostrou a lógica absurda das votações em massa levadas a cabo por grupos organizados que acabou envergonhando a televisão pública. E é pena, pois estes concursos poderiam ser mobilizadores de boas causas, se respeitassem os votantes. Ora, não se pode pedir às pessoas que participem, ao mesmo tempo que se impõem regras que tornam o seu voto irrelevante.
Não é justo, nem é sério. E bem podem as organizações destes concursos alegar que há um objectivo positivo de motivar a discussão sobre a História de Portugal, que o argumento não colhe. A histeria que se gera diante da imprevisibilidade dos resultados só vulgariza e despristigia a História, as suas figuras e o seu Património. A futebolização e o aproveitamento da História para fins meramente mediáticos e comerciais é lamentável. No que me toca, já não votei nos Grandes Portugueses, por achar que não é possível hierarquizar figuras em contextos e épocas completamente distintas. Contudo, votei por e-mail nas 7 Maravilhas, atendendo que estariam em causa factores estéticos e de importância histórica que poderão ser hierarquizados, ainda que subjectivamente, e tendo em conta a hipótese de valorização turística dos monumentos em causa. Contudo, entendo que o voto dos votantes não foi respeitado e, por isso, não voltarei mais a participar num concurso destes. Por mais objectivos beneméritos que nos apregoem.

2 comments:

José Alberto Vasco said...

Caro Mário Lopes. Eu votei, por e-mail, nos Grandes Portugueses e nas 7 Maravilhas do Mundo e de Portugal tendo perfeita consciência do âmbito de ambos os eventos. A sua tese não deixa de ser correcta, embora eu pense que se esteja a dar importância demais a este concurso, metendo debaixo do tapete questões muito mais graves e urgentes...
No que respeita à votação no Mosteiro de Alcobaça, penso que o problema de ela continuar afastada dos lugares cimeiros teve origem logo no início do concurso. O Mário deverá recordar-se de que nessa altura tanto o Presidente da Câmara Municipal de Alcobaça como o Director do Mosteiro alardearam e prometeram a constituição de um lóbi para apoiar essa candidatura. A verdade é que nem um nem outro cumpriram esse posicionamento e o último até tem ultimamente tomado posições públicas alardeando dúvidas quanto àquela votação. Honra seja dada ao Presidente da Câmara pela campanha que promoveu tirando o mágico Luis de Matos da cartola, embora eu julgue que o tivesse feito tardiamente, quando os dados vencedores já haviam sido lançados para a mesa há muito tempo...
Um concurso é apenas um concurso e não mais que isso. Embora, contrariamente ao que muito boa gente defende, eu penso que a eleição do Mosteiro de Alcobaça entre estas 7 Maravilhas de Portugal até poderia trazer benefícios para a cidade.

Romance Rosa de Sarom said...

ola meu nome é miguel westerberg já faz algum tempo q procuro no jornal tinta fresca este numero..Edição Nº 24 sobre um evento de nivel cultural leiria-ambientarte... FAZ ALGUM TEMPO Q VI ESTA PAGINA COM ESTE ARTIGO , MAS AGORA SUMIU.

MIGUEL WESTEBERG
miguelwesterberg@yahoo.com.br